Friday, November 26, 2004
Gasolina mais cara
Quem é dono de carro esse fim de semana vai xingar a Petrobras. A gasolina e o diesel aumentaram. De novo. Em menos de dois meses.
Mas não vamos nos enganar. O preço do petróleo no mercado externo não pára de aumentar, o aumento da gasolina era inevitável. E a Petrobras tem que importar cerca de 20% do óleo que refina, pelo menos até construir uma nova refinaria. A história de auto-suficiência não é mentira e deve chegar em 2006, mas auto-suficiência é de produção: uma parte do petróleo produzida na Bacia de Campos é exportado, pois as refinarias trabalham com uma mistura de petróleo árabe.
Tem gente que diz que o petróleo no mundo está acabando. Enrolação. Tem muito. E nunca se produziu tanto petróleo como hoje. A British Petroleum anualmente lança um balanço da situação mundial do petróleo, que ajuda a ver coisas que às vezes não são ditas de maneira clara. Fiz algumas contas nesse relatório, que é um simples arquivo de Excel.
Se toda a atividade de exploração parar hoje, dura no mínimo vinte anos. E há uns trinta anos essa fronteira permanece nesses vinte anos.
Esse gráfico mostra a variação da produção entre 1983 e 2003, e como ela aumentou, em quase todos os continentes. A barra verde gigantesca é o Oriente Médio. Uma pequena queda na produção da América do Norte, nada que pareça importante.
Até que o Brasil e a América do Sul não estão mal na foto.
Na América do Norte é fácil encontrar o “culpado” pela queda da produção no continente. Uma dica: é o mesmo país que mais consome petróleo no mundo.
Quando olhamos as reservas, ou seja, o petróleo que está no subsolo, a tendência se repete. Esse gráfico mostra a evolução das reservas, de 1983 a 2003. No Oriente Médio e na América do Sul as reservas subiram bastante, e caíram nos Estados Unidos.
Como era de se esperar, o aumento nas reservas da Venezuela é cerca de três vezes maior que o aumento nas reservas de todos os outros países da América do Sul.
Mas a surpresa mesmo você vê quando abre a América do Norte. As reservas nos Estados Unidos estão caindo, mas as do México estão desabando!
Não é difícil ver que em breve o México vai quebrar de novo. A Pemex é tão importante para o país que uma parte de sua arrecadação vai direto para os cofres do governo, permitindo um dos mais baixos níveis de impostos entre os países emergentes. Em compensação, agora a empresa não consegue explorar petróleo na parte mexicana do Golfo do México, porque está descapitalizada e não fez os investimentos necessários para se preparar para a exploração off-shore.
Não é à toa que o preço no mercado de petróleo internacional não pára de subir. E não é por outra razão que os Estados Unidos invadiram o Iraque e pretendem invadir o Irã. O petróleo nos Estados Unidos está acabando, e o país é estruturado em torno dele. Foi ali que a indústria do petróleo surgiu, e até 1992 era o maior produtor de petróleo do mundo. O resto é conversa.
Isso acontece porque as refinarias brasileiras foram construídas para receber o petróleo árabe, leve. O petróleo produzido na Bacia de Campos é pesado, mais parecido com o texano e o do Mar de Brent. Como construir uma nova refinaria é muito caro, a Petrobras prefere exportar o petróleo pesado e importar o petróleo leve. As refinarias estão sendo reformadas para processar cada vez mais petróleo nacional, mas isso é algo que vai demorar.
Outra má notícia é que essa auto-suficiência pode não durar para sempre. Vai depender da situação da economia brasileira, do consumo de derivados de petróleo, do desenvolvimento de alternativas (como o gás natural). É uma equação bem complexa.
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