Friday, April 29, 2005

 

Tirada da semana de Lula

Na primeira entrevista coletiva concedida pelo presidente, um repórter (não me lembro do nome dele) foi ao microfone e falou mais ou menos isso:

"Presidente, várias vezes o senhor criticou o nosso trabalho, da imprensa. Gostaria que o senhor apontasse três erros que reconhece em seu governo, e pelos quais assume responsabilidade".

Lula emendou:

"É difícil reconhecer um erro num governo que acerta tanto".

Todos os repórteres caíram no riso. Os puxas também devem ter rido. Até o Lula riu.

Mas ele fez um esforço de memória conseguiu apontar três erros. Ele não conseguiu eleger um aliado para a presidência da Câmera, não fez obras nas rodovias federais no volume esperado e reconheceu que usar apenas os juros para conter a inflação é uma trapalhada. Vê-se que são errinhos pequenos, bobos.

 

Entrevista coletiva

Hoje o Lula dará sua primeira entrevista coletiva desde que passou a ter um salário pago com nossos impostos. Sugestão de pergunta:
"Caro presidente: em recente declaração, o senhor enunciou que a taxa de juros é uma função do número de vezes que os brasileiros levantam o traseiro de sua cadeira. Gostaria de saber como o senhor o elaborou, visto que é um surpreendente salto para a teoria macroeconômica?"

 

Quando ignorância se transformou em um ponto de vista?

Ah, que presidente excelente que nós temos! Sua teoria de que os juros cobrados pelos bancos porque o brasileiro "não levanta o traseiro do banco, ou da cadeira, para buscar um banco mais barato" é um primor!

Esqueçam a concentração no mercado financeiro brasileiro, que dá mais poder aos emprestadores frente aos tomadores de empréstimo. Esqueçam a burocracia dos bancos: abrir e fechar uma conta é a coisa mais simples do mundo, que se resolve por telefone ou internet. E esqueçam também a CPMF, que torna mais caro mudar de banco. Os juros altos se resolvem com uma simples movimentação de traseiros, segundo o presidente Lula.

Essa frase me faz lembrar uma tira do Dilbert, na qual ele pergunta a seu chefe:
- Desde quando ignorância se tornou um ponto de vista?.

Durante a campanha se falava que o Lula, apesar de não ter muita educação formal, conviveu com muitos intelectuais, viajou pelo Brasil, coisa e tal. Mas frases como essa mostram que ele é simplesmente ignorante, no sentido mais básico do termo: não conhece os rudimentos da economia, e sequer sabe que não tem esse conhecimento.

Será que ele é um mestre na conciliação, para equilibrar as orientações divergentes do Guido Mantega no BNDES e do Palocci no Ministério da Fazenda? Ou ele nem percebe que as políticas de um puxam para um lado, e as do outro para o sentido oposto? Será que ele percebe que o Ministério da Fazenda faz exatamente a mesma política econômica do governo Fernando Henrique? E que países sérios não colocam um médico no comando da economia, da mesma maneira que não deixam os economistas fazerem cirurgias? Começo a desconfiar que o Lula não entende nada disso, e aproveita as reuniões com seus assessores econômicos para tirar um cochilo.


Thursday, April 28, 2005

 

Lição de humildade

O surf realmente é um esporte perfeito para aulas de filosofia barata. Comigo não poderia ser diferente.

No sábado o mar estava um pouco agitado, com ondas relativamente grandes, de 1,5m a 2m. Ou seja, paredes de água do tamanho de uma pessoa. Quando você está na areia podem até parecer pequenas, mas quando se está nadando e se observa elas de baixo para cima, ao nível do mar, subitamente elas adquirem um aspecto um pouco assustador.

Fui na praia no Recreio dos Bandeirantes, em frente à rua Gláucio Gil. Depois, andando até o Canto do Recreio e Macumba, percebi que era o lugar onde as ondas estavam maiores, mas quando entrei no mar não sabia disso. Depois de surfar duas ondas estava ficando cansado para varar a arrebentação: uma onda vinha atrás da outra, e era preciso fazer muito joelhinho para passar por baixo delas. Cheguei a desistir e voltar para perto da areia, para esperar a série passar.

No momento em que as ondas pararam, voltei a remar para o outside. Quando estava quase passando da arrebentação, vi uma onda subir. O melhor seria ficar parado e fazer o joelhinho por baixo da espuma branca, mas achei que daria para passar por baixo antes da onda estourar e remei em direção a ela. A onda estourou na minha cabeça, me embolando todo e me jogando para o fundo do mar - a profundidade devia ser de uns três ou quatro metros. A prancha foi jogada para longe, e quando consegui voltar à superfície mais uma da série estava estourando. Não dava tempo para recolher a prancha, e só mergulhei, contando com o leash.

Novamente, fui jogado lá embaixo. Quando voltei, o pior tinha acontecido: a cordinha tinha arrebentado, e eu estava sem fôlego e sem a prancha, no meio do quebra-coco de um dia de mar agitado. Na hora bateu um certo desespero, e acenei com os braços para que quem estivesse na areia percebesse que eu estava na pior.

Mas, depois de uns 15 segundos, limpei minha mente. Parei de pensar em qualquer coisa a não ser nadar até a areia. As ondas estavam grandes demais para pegar um jacaré até a beira, e me embolei mais uma vez. Mas consegui chegar, recuperar a prancha e aproveitar o sol daquele sábado. Depois fui para a praia da Macumba, onde o mar estava lisinho, com ondas gordas e fáceis de surfar.

Aprendi algumas coisas:
  1. Nunca é demais ter respeito pelo mar.
  2. Para sair de várias situações, não dá para contar com a ajuda de outras pessoas. E pior, muitas vezes de seu próprio equipamento: prancha, carro, computador, etc.
  3. Se a pior combinação de acontecimentos ocorreu, é melhor respirar fundo, se concentrar no "aqui e agora" e agir que ficar com a cabeça a mil e continuar parado no mesmo lugar.

Friday, April 22, 2005

 

No Rio, como no Vaticano

Quata-feira encontrei no Metrô um professor de história do segundo grau, o Luis Sérgio. Vi que tinha me reconhecido, mas apertava o olho, como se estivesse puxando da memória meu nome ou de onde me reconhecia. Para um aluno é fácil lembrar de um professor, para sei que um professor não consegue lembrar dos 300 alunos com que convive por ano. Para poupá-lo desse esforço, comprimentei-o e logo perguntei:
- Oi Luis Sérgio, ainda dá aula lá no São Vicente?
Pude ver que em instantes ele conseguiu lembrar de mim, e começamos a conversar. Ele me disse que saiu do colégio em 2000, porque o ambiente do colégio tinha mudado, e não o agradava mais. Segundo ele, o perfil do aluno e dos pais tinha mudado muito. Antes as pessoas procuravam o colégio porque queriam uma educação ao mesmo tempo católica e progressista, influenciada por todos aqueles papos de comunidades eclesiais de base, teologia da libertação, etc. Como disse Michel Houllelebecq no livro Partículas Elementares, naquele tempo parecia que "todo mundo era de esquerda".
Agora quem matricula os filhos no São Vicente mora nas Laranjeiras e Cosme Velho, e busca simplesmente comodidade no trajeto casa-escola. Não se importam com muita coisa além de que seu filho passe no vestibular, e cobram um "ensino de resultados".
Além dessa mudança na "demanda", houve uma mudança na "oferta". O Padre Almeida, antigo diretor, morreu em 1999, e em seu lugar entrou o padre Horta, que no ano seguinte também foi para o andar de cima.
Portanto, em 2001 assumiu o Padre Lauro Palú que, adivinhem, estava trabalhando no Vaticano. Assim, junto com uma linha de maior eficiência administrativa no ensino, o São Vicente foi gradualmente assumindo uma postura mais conservadora nos costumes.
Algo como se estivéssemos voltando ao início da década de 60. Esqueçam Pink Floyd e Led Zeppelin, Chico Buarque e Legião Urbana, aulas de educação sexual e a camisinha. Voltam os Beatles de terninho e cabelos curtos, aulas de religião e hipocrisia. E o pior, hoje temos Sandy e Junior.
Me lembro que no segundo grau tínhamos o que se chamava "Introdução às Ciências Humanas". Escolhíamos que aula iríamos ter por seis meses, com opções como Sociologia, Filosofia, Ciência Política, etc. Mas também havia a opção Educação Sexual, a mais concorrida porque era a mais "fácil", com aulas que se resumiam a conversas de uma educadora e uma psicóloga com a turma, sem deveres de casa ou coisa parecida. OK, eu escolhi pela razão pouco nobre da lei do mínimo esforço., mas aprendi algumas coisas úteis. Agora essa opção não existe mais no currículo, pelo que vi no site do colégio - só existe a opção Sociologia ou Filosofia, exigidas pela nova lei de diretrizes da educação.
Realmente, é demais para a Igreja Católica admitir coisas como casamento homossexual, ordenação de mulheres como sacerdotes, etc. Mas ela está muito fora da realidade ao condenar comportamentos que o "rebanho" aceita quase universalmente! Mesmo com todas as mudanças, o sexo antes do casamento e o uso de qualquer forma de anti-concepcional ainda são condenados. A masturbação agora é tolerada, mas só na adolescência, naquela fase da "secura". Depois do casamento, proibida de novo.
A escola que estudei, e a Igreja que conheci na infância, era mais preocupada com as questões que preocupavam o rebanho (como igualdade social, criminalidade, reforma agrária) e não ficava regulando o uso da camisinha. Mas essa corrente foi varrida da Igreja, e nem mesmo o São Vicente resistiu. Realmente, assim é difícil ser religioso.

Monday, April 11, 2005

 

O comando azul

Esse final de semana o Globo publicou matéris interessantes sobre as investigações a chacina de Nova Iguaçu e Queimados. Além dos indícios apontarem de maneira cada vez mais clara que os assassinos são policiais militares (cujos salários são pagos com o ICMS que nós recolhemos), parece que outros policiais que estavam trabalhando no horário também estão envolvidos, ao acobertarem o crime.

Uma testemunha conta que um PM passou pelo local de um dos assassinato, e recolheu do chão cápsulas deflagradas, antes da perícia chegar. E que um dos acusados voltou a uma das cenas do crime e começou a discutir com outro policial militar que vigiava o local, praticamente confessando que era o assassino - e não foi dada voz de prisão a ele.

Mas o que mais me entristece é a falta de visão de nós, fluminenses e cariocas. O Lindbergh, prefeito de Nova Iguaçu, foi ao bar onde ocorreram algumas das mortes fez um comício-relâmpago (auto-promoção perdoável, ele é político mesmo) e afirmou que no local será construído um centro comunitário, nos moldes do que existe em Vigário Geral. A reportagem de TV mostrou a reação das pessoas que moram por ali, e me choquei com os depoimentos.

Um homem falou que não gostou de saber que ali iria ser aberto um centro comunitário, pois ali o principal problema "não é social, mas falta de segurança". Uma moradora disse que se sente insegura, pois há pelas redondezas um tarado que fica perto da porta das escolas, e que gostaria de ver mais um posto da PM.

Catzo, não adianta botar um posto da PM em cada esquina se os policiais são corruptos, bandidos e assassinos! Essa chacina mostrou que um bom expurgo na PM é necessário, com demissões e exonerações de policiais e comandantes coniventes e a prisão dos policiais bandidos.

 

Os sem-noção

Sábado fiz minha boa ação da semana.

Estava surfando na Barra, perto do pier. O mar não estava grande, com ondas de meio metro, mas havia uma corrente. Perto do pico havia um banco de areia, e muitos banhistas estavam lá, prejudicando o surf.

Uma hora, o inevitável aconteceu. Uma série maior entrou, e quando as ondas voltam elas criam uma corrente com direção ao mar. O local fica com mais água, e em questão de segundos um lugar onde "dá pé" logo parece ficar fundo. Três zé ruelas começaram a gritar pedindo socorro. Por que pessoas que nem sabem nadar insistem em entrar no mar?

Um salva-vidas entrou, e pediu para que eu ajudasse. Remei para perto do cara que estava na pior situação, enquanto o salva-vidas ajudava o que estava mais perto da areia. Estiquei a prancha e dei para o sujeito se segurar nela. O cara estava zonzo, e logo que pegou a prancha começou a arrotar muito, sinal que ele devia ter bebido um litro de água do mar.

Tinha outro cara que estava entre os dois, quase no banco de areia, e, quando me viu, ao invés de nadar em direção à praia voltou para se agarrar à prancha. Que otário! Quando ele agarrou a prancha senti um bafo de álcool, e comecei a pagar uma geral para ele. Fala sério, beber e entrar no mar é pedir para arrumar confusão. O primeiro cara jurou que não tinha bebido, mas não levei muita fé.

O pior foi a atitude do primeiro a ser resgatado, também o mais gritador. Logo que o salva-vidas o colocou no banco de areia, o zé ruela começou a discutir com o salva-vidas! O salva-vidas disse algo do tipo "toma mais cuidado" e ele começou a falar: "Porra! Estou te pedindo na moral para você me ajudar!".

Em pouco tempo o salva-vidas resgatou o engolidor de água, e eu despachei o bebum para a areia. Quando as ondas pararam eu falei: "Vai, nada para a areia! Você entrou sozinho, agora sai sozinho!". Com esse estímulo, ele começou a bater os braços e voltou para a areia.

No domingo vi quatro pessoas quase se afogando juntas, no Recreio, e também resgatadas por um salva-vidas. Admiro o trabalho deles: muita gente fala que é a maior vida mansa, pois os salva-vidas ficam na praia o dia inteiro e passam quase todo o tempo só olhando o mar. Mas arriscar seu pescoço para salvar um zé ruela é uma atividade nobre. Se eu estiver sozinho penso duas vezes antes de ajudar alguém se afogando, porque é perigoso: a pessoa pode se desesperar, te agarrar e te levar para o fundo do mar junto com ela.

É impressionante como as pessoas fazem merda, como beber antes de entrar no mar e ficar desesperadas quando uma onda as puxa um pouquinho para o fundo. Não adianta fazer força: se você estiver em uma vala forte, não adianta nadar contra a corrente, em direção à praia. Nade um pouco para o lado, em direção ao local onde estão quebrando as ondas, e volte a nadar para a areia. E, se achar que o mar está puxando, fique na beira e pare de dar trabalho aos salva-vidas!

Friday, April 08, 2005

 

Quanta sinceridade

É interessante ver como as expressões amadoras ou semi-amadoras na internet estão mudando. Não faz muito tempo, todos os websites pessoais tinham apenas textos, e algumas figuras templates capturadas em bancos de imagens.

Com as câmeras digitais, assistimos à explosão das fotos na web, a ponto de se criarem os fotologs.

Agora começamos a ver o mesmo acontecer com os vídeos, à medida que as câmeras digitais no formato mini-DV começam a ser compradas por aqueles que têm algum dinheiro de sobra. O site www.evidente.tv, por exemplo, em alguns anos pode ser a "MTV alternativa". A idéia é simples: bandas cariocas iniciantes e independentes gravam seus shows e permitem que os internautas baixem o vídeo de uma ou duas músicas. O vídeo da clássica Amigo Punk está lá.

E, como não poderia deixar de ser, momentos antológicos dos vídeos caseiros começam a circular pela internet. É impressionante como um pouco de birita tornas as pessoas sinceras.

Birita e câmeras não combinam.

Friday, April 01, 2005

 

Os idiotas venceram

Um interessante artigo de primeiro de Abril foi publicado pela revista Scientific American, na forma de um editorial. Eles dizem basicamente:

"OK, nós desistimos. Por anos nossos leitores têm nos pedido para sermos mais balanceados em nossa cobertura sobre criacionismo e aquecimento global. Mas por anos temos publicado muitas matérias sobre Charles Darwin, mas não falamos sobre os convincentes argumentos do criacionismo científico.

E nós maltratamos os teóricos do Design Inteligente (DI) juntando-os com os criacionistas. Criacionistas acreditam que Deus projetou toda a vida, e isso é uma idéia meio religiosa. Mas os teóricos do DI pensam que em alguma época alguma entidade superpoderosa projetou a vida, o talvez algumas espécies, ou quem sabe algumas coisas que ficam dentro das células. Isso é o que torna o DI uma teoria científica superior: ele não se preocupa com esses pequenos detalhes."

A versão completa do falso editorial pode ser lido aqui.

Infelizmente, aqui no Rio de Janeiro isso não é brincadeira de primeiro de abril. O Carlos Minc publicou um artigo hoje no Globo dizendo que nas escolas estaduais da base do Garotinho o criacionismo é abertamente ensinado. Isso para não falar do ensino religioso "ecumênico", onde o professor de religião deve ser credenciado por alguma igreja e pode perder o emprego se for comprovada sua "falta de fé". Triste, triste.

 

1º de abril

Na imprensa dos Estados Unidos e Europa, a imprensa costuma plantar no noticiário notícias falsas no primeiro de abril. Aqui os coleguinhas não fazem isso, provavelmente por acharem que isso iria confundir os leitores. Afinal, volta e meia a Veja dedica uma capa a "notícias" que só podem ser piadas de mau gosto.

Quem gosta dessas pequenas diversões e acompanha o noticiário de tecnologia e ciência pode conferir o Slashdot - hoje todas as notícias publicadas ali têm o mesmo valor que uma nota de R$ 15.

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