Thursday, June 23, 2005

 

O grande cantor

Muito interessante o que aconteceu nas últimas semanas. Depois de assistir o depoimento do Maurício Marinho, ex-diretor dos Correios, é possível entender o padrão de comportamento daquele que aparentemente é seu mestre - o grande Roberto Jefferson. Indagado se cometeu alguma irregularidade, Marinho deu umas desculpas esfarrapadas ("fui enrolado", "fizeram uma lavagem cerebral") e falou: "Mas vocês deviam investigar a diretoria de tecnologia dos Correios. O diretor é do PT". Os membros da CPI perguntaram se ele tinha alguma evidência que pudesse ajudar as investigações e o Marinho saiu-se com coisas do tipo: "Não, mas todo mundo sabe disso."

Roberto Jefferson tinha feito exatamente o mesmo. Quando viu que estava contra a parede, foi para o ataque, com mensalão para cá e Delúbio para lá. Perguntaram se ele tinha alguma evidência que desse apoio às suas acusações. Como seu pupilo iria fazer depois, Jefferson desconversou.


Se o Roberto Jefferson e o Maurício Marinho estiverem fazendo denúncias conseqüentes, que depois sejam apoiadas por provas obtidas em uma investigação policial ou da CPI, parabéns a eles. Mas, por enquanto, continuo considerando Roberto Jefferson o beque central de Fernando Collor, e Maurício Marinho o funcionário público que pegou dinheiro de um licitante em frente a uma câmera de TV.



Mesmo que Dirceu não tenha feito nada de errado, merece passar pela atual humilhação pública. Foi ele o principal articulador da aliança do PT com o PTB, e quando estourou o escândalo nos Correios sua turma ainda tentou abafar a CPI. Tudo isso para depois levar uma facada nas costelas de Roberto Jefferson.

As acusações são tão graves que, mesmo se não forem verdadeiras, mostram o nível de desmoralização de Dirceu. Desse jeito, ele não pode trabalhar chefiando o mais importante ministério do país, ou ser o presidente do PT. Às vezes os políticos parecem crianças em uma escola secundária: Dirceu tomou um "esculacho" enorme, e agora ninguém mais acredita em sua liderança.

Friday, June 17, 2005

 

De volta ao blogspot

Daqui a algum tempo poderei usar esse blog para acompanhar meu ritmo de trabalho . As duas últimas foram puxadas, e quase não parei na minha baia, e ele viu poucos posts. Mas foi por bons motivos. Mais uma plataforma teve suas obras concluídas, a P-47, e seguiu para a Bacia de Campos. E a P-50, aquela plataforma que pode ser vista da ponte Rio-Niterói quando você está chegando à cidade sorriso, também está perto de ser concluída.

Nessas épocas eu preciso ir lá, escrever uma matéria sobre a obra, coisas do tipo. Não é muito glamuroso e nem o que imaginava fazer quando estava na faculdade, mas é um trabalho.

Na inauguração da P-47 a imprensa estava presente, pois Lula, Rosinha, Dilma e o Eduardo Dutra estavam lá. Como sempre, vi os coleguinhas tensos, agitados, tendo que aguentar aqueles discursos intermináveis esperando alguma declaração sobre uma CPI ou a crise do momento. Me lembrei dos meus tempos de jornal. Essa profissão é boa, você se sente em uma caçada, mas é pauleira escrever um texto ao final de cada dia. O pior é quando você passa o dia inteiro na redação, e depois de fazer dezenas de ligações descobre que não conseguiu nada que faça o dia ter valhido a pena.

Quando comecei a trabalhar na Petrobras pasei por um período de choque. O trabalho em uma mega-corporação é bem diferente daquele em uma empresa de médio ou grande porte. O seu computador funciona, existe um help desk eficiente, e quando você consegue provar que precisa de qualquer coisa para seu trabalho (seja uma máquina fotográfica, um passeio de helicóptero ou uma tradução de um texto em chinês), isso vai acabar aparecendo. Mas também tem o outro lado: você passa metade do tempo fazendo, e metade do tempo explicando por quê fez, com dezenas de relatórios e controles. A vida se torna uma grande tira do Dilbert.

E a Petrobras é muito diferente de outras grandes corporações: por baixo dessa aura de multinacional está uma empresa estatal, com tudo de bom que isso significa. O lado bom: todas essas obras estão sendo feitas no Brasil, reerguendo um setor que estava sucateado, porque a Petrobras não foi sucateada. E dessa vez os burocratas parecem ter aprendido com os erros do passado: essa ajuda está sendo feita para as empresas de engenharia daqui do Brasil com o compromisso de que elas em pouco tempo deixem de depender da mãe Petrobras, e passem a exportar e competir no mercado internacional. Mas também tem seu lado ruim: é desagradável ver que a diretoria da empresa onde você trabalha é cobiçada por Severinos da vida.

Mas, no geral, é uma gaiola dourada com a qual em pouco tempo você se acostuma. Não troco minhas atuais noites de sono tranqüilas por nada. Agora tenho pouco sono não porque durmo tarde, mas porque acordo cedo.

Wednesday, June 01, 2005

 

Para entender a Bolívia

Um artigo escrito por um geólogo aposentado da Petrobras (e que até escreve bem, para um geólogo!) e publicado no Globo Online ajuda a explicar um pouco a confusão na Bolívia.

Na década de 70 o Brasil não tinha muito interesse em gás natural, ainda mais no exterior, mas, de qualquer maneira, enviaram uma equipe para avaliar as possíveis reservas da Bolívia. Ele percebia que os engenheiros e técnicos bolivianos recebiam os brasileiros com um sorriso amarelo e uma certa apatia. Dados técnicos não chegavam a ele, e, quando chegavam, estavam atrasados e incorretos.

Em um dia de descontração, durante um churrasco, houve uma conversa franca. Os bolivianos admitiram que não colaboravam com os brasileiros porque acreditavam que nós íamos roubar o seu gás, assim como tínhamos feito com o Acre.

Os brasileiros falaram: "Mas nós pagamos pelo Acre cada centavo exigido pela Bolívia!"

Os bolivianos retrucaram: "Vocês pagaram às nossas elites, que roubam do povo. Nós ficamos sem o Acre e sem dinheiro".

Então tá.

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