Sunday, December 05, 2004

 

Mais um que quer fugir do Rio


Um acontecimento em meu mundinho me mostrou como é fácil achar que se está fazendo bem a uma pessoa, quando na verdade está se fazendo o oposto.


Moro com meus pais, em um prédio antigo, com poucos apartamentos e taxa de condomínio altíssima. Dois novos moradores, sentindo o aperto da classe média, querem diminuir esses gastos e propuseram a demissão do vigia, o porteiro mais antigo. Em seu lugar, seria contratado outro porteiro, que receberia menos.


Eu e minha mãe fomos contra. Afinal, é um absurdo, ele tem mais de 40 anos, dois filhos para criar, e é muito difícil achar emprego nessa idade.


Mas a decisão tinha sido praticamente tomada pela reunião de condomínio, e o síndico foi conversar com o porteiro. A surpresa: o porteiro adorou a notícia. Ele vive em uma favela em Santa Tereza, e está querendo voltar para a Paraíba, onde mora sua família. Seu filho de 16 anos está se envolvendo com os traficantes locais, e o que ele mais quer é tirar ele de lá. Com a demissão, ele ainda leva uns R$ 40 mil no bolso, para recomeçar sua vida.


Sua esposa foi conversar com o traficante local, como que para pedir “autorização” para a mudança. Existem casos de pessoas que vivem em favelas que se mudaram sem avisar o tráfico local. Isso desperta suspeitas, a ponto de acontecerem assassinatos quando esses ex-moradores um dia retornam à favela para passear.


O traficante deu sua autorização, com palavras reveladoras. “Pode levar seu filho embora. Eu não chamo ninguém, eles que aparecem aqui. Agora, na hora que a polícia invade, eu boto uma arma na mão de todo mundo, pode até ser criança de dez anos”. O garoto já saiu de casa, foi para São Paulo, na casa de parentes. Quando a família se mudar para o Nordeste, o que deve acontecer nos próximos meses, ele vai junto.


Minha irmã é defensora pública e me disse que em algumas favelas traficantes chegam a colocar cartazes nas bocas-de-fumo onde se lê “Não há vagas”, dado o número de jovens que espontaneamente se alistam como soldados do tráfico.


Mostra também o que decide as eleições no Rio de Janeiro. Saneamento, educação, saúde e desemprego preocupam as pessoas, mas o que está no topo da lista de quase todos é a criminalidade.


Comments:
Bruno,

realmente impressionante. Mas ao menos essa história teve um final feliz. É incrível também a quantidade de pessoas que conheço que estão saindo do Rio, para tentar a vida em outro lugar. Será que a cidade entrou mesmo num beco sem saída?
 
Meu caro leitor nº 2,

sim, eu acho que o Rio não tem mais jeito. É melhor se mudar para outro país, como São Paulo, ou outra cidade, como a Barra da Tijuca.
 
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