Sunday, January 16, 2005

 

Quem não é "da paz"?

Outro dia de ônibus passei na Linha Vermelha, e em um dos CIEPs do Complexo do Alemão vi uma pomba branca da paz, com os dizeres: Paz. Achei bonito: para onde será que eles pediam paz? Afeganistão? Iraque? Palestina?


O ônibus continuou andando e vi os barracos daquela que é a maior favela do Rio de Janeiro, e me lembrei que era algo bem mais perto da realidade deles. Ali, se mata e se morre por muito pouco.


Estou lendo um livro sobre a história da relação de Israel com as nações árabes, e as diferenças e semelhanças são interessantes. Uma parte significativa da população palestina é jovem, e vive em condições parecidas com as das favelas brasileiras. A Faixa de Gaza, em particular, é quase um grande favelão. Mas na palestina existe um inimigo claro, e uma guerra civil é travada ali, de maneira aberta, há décadas.


Ali, falar em paz é uma declaração política. Para uma parcela que não é desprezível dos palestinos, apenas a destruição de Israel é um objetivo válido. Isso, é claro, vale também para os israelenses. Alguns parecem crer que todos os árabes e palestinos estão dispostos a acabar com Israel, e que não adianta negociar um acordo que garante paz a Israel e um Estado aos palestinos.


Mas do que adianta falar em paz para o Complexo do Alemão? Ali se trava uma guerra de verdade ou é apenas competição entre “empresários” que, por conta de sua atividade, vivem na ilegalidade e não podem resolver suas disputas em tribunais? E, se fosse para levar a sério isso, como seria composta uma mesa de negociação de paz? Seria entre líderes do tráfico? Ou entre o governo do Estado e os traficantes?


No primeiro caso, seria apenas um acerto entre mafiosos. Já aconteceu antes, vai voltar a acontecer. Dura até que a próxima disputa do tráfico. E uma conversa entre o estado e os traficantes seria inaceitável. Quais seriam os termos de um acordo? “Vocês depõem as armas e nós arranjamos uns empregos para vocês na secretaria de cultura”?


Por isso, toda essa história de “paz”, “queremos paz”, “sou da paz”, não faz sentido. Uma guerra não foi declarada, e não podemos sair dessa situação com um acordo de paz. Nosso problema é a criminalidade, pura e simples. As discussões aqui precisam ser sobre temas mais relevantes, e pararmos de prostituir a palavra “paz”.


O problema é que a polícia entra pouco nas favelas? Ou entra demais? Ou é corrupta? As leis são pouco severas com o tráfico ou o consumo de drogas? Ou, ao contrário, devíamos seguir para o caminho holandês, descriminalizando o consumo e a venda de determinadas drogas?


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