Friday, April 22, 2005

 

No Rio, como no Vaticano

Quata-feira encontrei no Metrô um professor de história do segundo grau, o Luis Sérgio. Vi que tinha me reconhecido, mas apertava o olho, como se estivesse puxando da memória meu nome ou de onde me reconhecia. Para um aluno é fácil lembrar de um professor, para sei que um professor não consegue lembrar dos 300 alunos com que convive por ano. Para poupá-lo desse esforço, comprimentei-o e logo perguntei:
- Oi Luis Sérgio, ainda dá aula lá no São Vicente?
Pude ver que em instantes ele conseguiu lembrar de mim, e começamos a conversar. Ele me disse que saiu do colégio em 2000, porque o ambiente do colégio tinha mudado, e não o agradava mais. Segundo ele, o perfil do aluno e dos pais tinha mudado muito. Antes as pessoas procuravam o colégio porque queriam uma educação ao mesmo tempo católica e progressista, influenciada por todos aqueles papos de comunidades eclesiais de base, teologia da libertação, etc. Como disse Michel Houllelebecq no livro Partículas Elementares, naquele tempo parecia que "todo mundo era de esquerda".
Agora quem matricula os filhos no São Vicente mora nas Laranjeiras e Cosme Velho, e busca simplesmente comodidade no trajeto casa-escola. Não se importam com muita coisa além de que seu filho passe no vestibular, e cobram um "ensino de resultados".
Além dessa mudança na "demanda", houve uma mudança na "oferta". O Padre Almeida, antigo diretor, morreu em 1999, e em seu lugar entrou o padre Horta, que no ano seguinte também foi para o andar de cima.
Portanto, em 2001 assumiu o Padre Lauro Palú que, adivinhem, estava trabalhando no Vaticano. Assim, junto com uma linha de maior eficiência administrativa no ensino, o São Vicente foi gradualmente assumindo uma postura mais conservadora nos costumes.
Algo como se estivéssemos voltando ao início da década de 60. Esqueçam Pink Floyd e Led Zeppelin, Chico Buarque e Legião Urbana, aulas de educação sexual e a camisinha. Voltam os Beatles de terninho e cabelos curtos, aulas de religião e hipocrisia. E o pior, hoje temos Sandy e Junior.
Me lembro que no segundo grau tínhamos o que se chamava "Introdução às Ciências Humanas". Escolhíamos que aula iríamos ter por seis meses, com opções como Sociologia, Filosofia, Ciência Política, etc. Mas também havia a opção Educação Sexual, a mais concorrida porque era a mais "fácil", com aulas que se resumiam a conversas de uma educadora e uma psicóloga com a turma, sem deveres de casa ou coisa parecida. OK, eu escolhi pela razão pouco nobre da lei do mínimo esforço., mas aprendi algumas coisas úteis. Agora essa opção não existe mais no currículo, pelo que vi no site do colégio - só existe a opção Sociologia ou Filosofia, exigidas pela nova lei de diretrizes da educação.
Realmente, é demais para a Igreja Católica admitir coisas como casamento homossexual, ordenação de mulheres como sacerdotes, etc. Mas ela está muito fora da realidade ao condenar comportamentos que o "rebanho" aceita quase universalmente! Mesmo com todas as mudanças, o sexo antes do casamento e o uso de qualquer forma de anti-concepcional ainda são condenados. A masturbação agora é tolerada, mas só na adolescência, naquela fase da "secura". Depois do casamento, proibida de novo.
A escola que estudei, e a Igreja que conheci na infância, era mais preocupada com as questões que preocupavam o rebanho (como igualdade social, criminalidade, reforma agrária) e não ficava regulando o uso da camisinha. Mas essa corrente foi varrida da Igreja, e nem mesmo o São Vicente resistiu. Realmente, assim é difícil ser religioso.

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