Wednesday, December 22, 2004

 

Tim Maia

O sujeito mais figura da MPB teve muitas histórias para contar. Conheci uma pessoa que trabalhou para o Tim Maia por cinco anos, e quero escrever as histórias antes que me esqueça.

O sujeito era produtor dos discos dele, e, lá pela década de 80, comprou um carro Puma conversível, preto, lindo. Um dia Tim Maia vê ele com o carro e fala na hora: "Chico, você precisa se livrar desse carro. Se você capotar, esse conversível vai te fazer quebrar o pescoço." A ladainha continuou por semanas, e o Chico sempre falava que não ia vender o carro.

Nessa época o Chico estava mixando um disco do Tim. Ao lado da casa onde funcionava o estúdio havia um terreno vazio, que Tim tinha praticamente transformado em uma fazenda. Começou com umas galinhas, depois uns patos. Em seguida Tim colocou uma vaca no terreno, e um pouco depois um touro. A vaca e o touro deram cria, e quando isso aconteceu ele completou com um cavalo. Quando estava doido demais para gravar, ou simplesmente quando queria passar o tempo, Tim Maia ficava debruçado no muro do da casa onde funcionava o estúdio, e admirava sua fazenda particular.

Um dia Chico chegou para trabalhar, e uma pessoa que passava pela rua viu aquele carro conversível e fez uma proposta de compra. Chico polidamente recusou, entrou na casa e encontrou Tim, plácido, admirando sua "fazenda" e debruçado junto ao muro. Falou com ele e entrou no estúdio, para mixar o dsco. Foi trabalhar tranquilo.

Por volta de duas horas depois, Tim Maia entra no estúdio e entrega uma quantidade razoável de dinheiro para ele.

"O que é isso, Tim"

"Pega esse dinheiro e compra um gol prateado para levar sua esposa fazer compras no Carrefour."

"Mas por quê? E o meu carro?"

"Vendi ele. O comprador já está com chave do carro. Daqui a pouco ele chega, e vocÊ pode entregar todos os documentos."

"Mas como? E o dinheiro?."

"Relaxa, vendi bem. E, além dos cinco mil que o cara te deu, te dou agora mais três mil para você comprar um carro muito bom."

Como o negócio realmente tinha sido bom e o Tim Maia havia dado o dinheiro, Chico aceitou e comprou um gol prateado, como ele tinha falado.

Saturday, December 11, 2004

 

Google vai à escola

Todos sabem que a internet foi redefinida pelo Google. Nos tempos em que Altavista e Yahoo reinavam, era muito mais difícil achar qualquer coisa. Para encontrar uma boa informação, era preciso passar por várias páginas com resultados incoerentes.

O Google se guia pela popularidade de uma informação, medida pela quantidade de páginas que fazem link a ela. Por exemplo, quando alguém se refere ao Brasil, costuma se referir à página do governo brasileiro, www.brasil.gov.br. Logo, essa página aparece no topo da lista do Google.

Às vezes você quer apenas uma informação superficial, como se estivesse consultando uma enciclopédia. Nesse caso, a busca normal do Google é imbatível. O problema é que nem sempre você quer saber uma informação assim.

Imagine que você escutou no rádio que o guitarrista de uma banda de heavy metal foi baleado e morto. Como você vai descobrir isso no Google? A informação é recente, qualquer busca irá levar a centenas de páginas que falam sobre dezenas de guitarristas de heavy metal, mas nenhuma delas tem a informação certa.

E imagine que você quer procurar em profundidade teses acadêmicas que falam, por exemplo, de aspectos políticos e econômicos da corrupção. O Google vai te levar a dezenas de páginas amadoras ou de instituições e ONGs, e não vai te ajudar.

Como jornalista, já sabia que o Google tem outro serviço, o Google News. Uma rápida procura por "heavy metal" hoje no Google News leva direto a uma página com dezenas de links para notícias sobre o assassinato de Darrell Abot, ex-guitarrista do Pantera. A diferença do Google News para o Google principal é que ele faz suas buscas apenas em sites noticiosos, pré-definidos, e constantemente atualiza suas buscas.

Hoje descobri um outro serviço do Google, o Google Scholar. Ele faz pesquisas apenas em bibliotecas online e repositórios de revistas científicas. Aqui, uma pesquisa por "Corruption" e "Transparency" leva a dezenas de links para papers científicos e acadêmicos. Hey!

Wednesday, December 08, 2004

 

Humor de refinaria

Um feliz operador trabalhava, tranquilo, em uma refinaria (a história diz que é em São Paulo, mas poderia ser em qualquer lugar do Brasil). Naquele dia ele estava no turno da noite, que começa meia-noite e termina sete da manhã.

Infelizmente, ele começa a passar mal, logo que chega ao trabalho. Vai ao posto médico, e a enfermeira de plantão o libera do trabalho naquele dia. O coordenador de turno coloca o operador em um carro, e o despacha para casa.

Ele chega por volta de 1 da manhã, e encontra sua casa vazia. Sua esposa havia apenas deixado um bilhete: "Fui à feira, bem. Volto já".

Monday, December 06, 2004

 

O Rio está mais ou menos violento?

Não sei, respondam vocês. Encontrei na página do núcelo do estudos de violência urbana da UFRJ, da figurinha fácil Michel Misse, uns números sobre isso. Essas tabelas são montadas a partir dos registros policiais, mas não é todo mundo que registra um roubo ou assalto. Pena que os números só alcançam 2001.

Duas estatísticas que certamente não podem ser sub-notificadas são a de homicídios e de "encontro de cadáver". Tirando dos homicídios culposos as mortes no trânsito, e somando os dolosos com encontro de cadáveres, é possível ter um bom retrato dos últimos anos. Quando tiver saco vou ver esses números.

O Michel Misse não poderia ao menos ter colocado esses números em uma tabela HTML ou um arquivo Excel?

1997
1998
1999
2000
2001


Sunday, December 05, 2004

 

Royalties que vão pelo ralo

O Globo publicou hoje uma matéria mostrando como os municípios do Rio de Janeiro estão investindo os royalties que receberam por conta da exploração do petróleo, como Macaé, Campos e Rio das Ostras. A situação é triste: boa parte das prefeituras fez obras de fachada (imitando o Rio Orla e o Rio Cidade do Cesar Maia) ou inchou a máquina pública com contratações.

Campos, por exemplo, deve mais de 70% de sua arrecadação aos royalties, enquanto em Macaé os royalties e participações especiais subiram de R$ 6 milhões em 1997 para R$ 276 milhões em 2004 (43% do orçamento do município).

Mas todos esse dinheiro não parece ser suficiente para a prefeitura de Macaé conter a favelização da cidade. Em Rio das Ostras 90% da população não tem saneamento, mas a prefeitura colocou piso de porcelanato quando reformou a orla. Em São João da Barra um posto de saúde foi erguido, mas parece ficar fechado boa parte do tempo.



 

Mais um que quer fugir do Rio


Um acontecimento em meu mundinho me mostrou como é fácil achar que se está fazendo bem a uma pessoa, quando na verdade está se fazendo o oposto.


Moro com meus pais, em um prédio antigo, com poucos apartamentos e taxa de condomínio altíssima. Dois novos moradores, sentindo o aperto da classe média, querem diminuir esses gastos e propuseram a demissão do vigia, o porteiro mais antigo. Em seu lugar, seria contratado outro porteiro, que receberia menos.


Eu e minha mãe fomos contra. Afinal, é um absurdo, ele tem mais de 40 anos, dois filhos para criar, e é muito difícil achar emprego nessa idade.


Mas a decisão tinha sido praticamente tomada pela reunião de condomínio, e o síndico foi conversar com o porteiro. A surpresa: o porteiro adorou a notícia. Ele vive em uma favela em Santa Tereza, e está querendo voltar para a Paraíba, onde mora sua família. Seu filho de 16 anos está se envolvendo com os traficantes locais, e o que ele mais quer é tirar ele de lá. Com a demissão, ele ainda leva uns R$ 40 mil no bolso, para recomeçar sua vida.


Sua esposa foi conversar com o traficante local, como que para pedir “autorização” para a mudança. Existem casos de pessoas que vivem em favelas que se mudaram sem avisar o tráfico local. Isso desperta suspeitas, a ponto de acontecerem assassinatos quando esses ex-moradores um dia retornam à favela para passear.


O traficante deu sua autorização, com palavras reveladoras. “Pode levar seu filho embora. Eu não chamo ninguém, eles que aparecem aqui. Agora, na hora que a polícia invade, eu boto uma arma na mão de todo mundo, pode até ser criança de dez anos”. O garoto já saiu de casa, foi para São Paulo, na casa de parentes. Quando a família se mudar para o Nordeste, o que deve acontecer nos próximos meses, ele vai junto.


Minha irmã é defensora pública e me disse que em algumas favelas traficantes chegam a colocar cartazes nas bocas-de-fumo onde se lê “Não há vagas”, dado o número de jovens que espontaneamente se alistam como soldados do tráfico.


Mostra também o que decide as eleições no Rio de Janeiro. Saneamento, educação, saúde e desemprego preocupam as pessoas, mas o que está no topo da lista de quase todos é a criminalidade.


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